Vacina contra malária pode mudar o cenário da doença
Há algum tempo não se tinham grandes inovações relacionadas ao tratamento ou prevenção da Malária. Um dos principais motivos para isso pode ser geopolítico: a doença é endêmica em países tropicais, especialmente em desenvolvimento, gerando menor interesse em pesquisa e desenvolvimento. Por isso, a parasitose ganhou status de doença negligenciada. Embora a doença possa ser causada por diferentes espécies do parasito, a forma mais agressiva e letal da malária é causada pelo Plasmodium falciparum. Essa espécie é responsável pela maior parte dos casos da doença na África.
Após mais de 30 anos de pesquisa, a vacina RTS,S/AS01, da GlaxoSmithKline (GSK), pode mudar esse cenário. Os resultados de fase 3 da vacina foram publicados em 2015, na revista The Lancet, atestando sua segurança e eficácia. Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) implementou um programa piloto de imunização contra malária em países como Gana, Malawi e Kenya, com mais de 800 mil crianças vacinadas desde então. Com 2 anos de estudo, a OMS passou a recomendar a imunização de crianças em regiões de risco moderado a alto de infeção por P. falciparum, mas o programa piloto só será finalizado em 2024.
Entre os resultados positivos observados, inclui-se:
- Administração viável da vacina (4 doses administradas a partir dos 5 meses de idade);
- Aumento na equidade de acesso a métodos preventivos (além de mosqueteiras e repelentes);
- Ausência de impacto no uso de outros meios preventivos (ou seja, otimização real na profilaxia);
- Redução de até 30% no risco de morte frente a quadros severos da doença;
- Perfil de segurança favorável (poucos eventos indesejados em mais de 2,3 milhões de doses administradas);
- Balanço custo/benefício interessante, sem representar um fardo econômico grande para regiões em desenvolvimento.
Em janeiro de 2021, a GSK firmou acordos de transferência de tecnologia com a indiana Bharat Biotech para aumentar a produção e fornecimento de vacinas ao continente africano. Embora a vacina seja um avanço importante, especialmente por ser a primeira vacina desenvolvida contra uma doença causada por protozoários, seu impacto no Brasil deve ser pequeno: segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 90% dos casos de malária no país são causados pelo Plasmodium vivax, e a vacina não tem eficácia significativa contra essa espécie do parasito.