Tadalafila “em alta”: entenda os riscos
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) emitiu um alerta sobre o uso indevido de inibidores da fosfodiesterase. Esses medicamentos são amplamente conhecidos pelo tratamento da disfunção erétil (“impotência sexual”). Como eles podem ser adquiridos com certa facilidade, há um aumento no uso para fins recreativos e de performance, situações para as quais não há indicação formal nem comprovação de eficácia e segurança.
Quais são os fármacos “da família” da tadalafila?
No Brasil, há registro dos seguintes fármacos:
- Sildenafila (Viagra®, Hazex®, Vasifil®, Denavas®, Redatim®, Sollevare®, Ah-zul® e genéricos);
- Tadalafila (Cialis®, Zyad®, Tada®, Lync®, Vorallis®, Nesta®, Asap®, Hislafi® e genéricos);
- Vardenafila (Leviosa®, Varmuve® e genéricos);
- Udenafila (Zydena®);
- Lodenafila (Helleva® e Pycos®).
Embora a disfunção erétil seja a indicação mais difundida, esses fármacos também podem ser indicados em casos de hiperplasia prostática benigna, bexiga hiperativa e hipertensão pulmonar.
Entenda o uso “recreativo” e de performance
Os inibidores da fosfodiesterase atuam como vasodilatadores, ou seja, promovem o aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos e melhoram o fluxo circulatório. Esse mecanismo explica tanto o efeito na ereção peniana quanto na hipertensão pulmonar, por aumento no fluxo sanguíneo local e redução na pressão sanguínea.
O chamado “uso recreativo” se relaciona à facilidade em obter ereção (você lembra desse post?). Há relatos de venda para finalidades como ‘aumento da confiança’ durante relações sexuais, participação em “maratonas sexuais” e até usos inusitados, como para ‘ficar bonito de sunga’. Esse tipo de consumo já é descrito há um tempo, mas ganhou força especialmente após a chegada dos genéricos e a consequente redução nos preços.
Recentemente, o uso indiscriminado desses medicamentos ganhou novas proporções com a divulgação de balas de goma contendo tadalafila, apelidadas de ‘MetBala’ — comercializadas sem qualquer registro sanitário. O produto foi rapidamente proibido pela ANVISA, que agora investiga se a divulgação configura crime contra a saúde pública. A venda como gummy deixa escancarado o caráter “lúdico” e arriscado desse uso irregular.
O chamado uso de performance, ou ‘estético’, surgiu mais recentemente, impulsionado pela demanda crescente por suplementos voltados ao esporte. Em academias, é comum a utilização da tadalafila na expectativa de aumentar a força muscular, a “vascularização” (“pump”) e a hipertrofia. Em teoria, esses efeitos parecem plausíveis, já que a substância tem ação vasodilatadora. No entanto, não existem estudos que comprovem efeito vasodilatador relevante na musculatura esquelética — o alvo principal desse uso. Assim, é bastante provável que os ganhos relatados por atletas sejam mínimos ou decorram de efeito placebo.
Conheça os riscos do uso indiscriminado
É importante ressaltar que a aprovação de um medicamento para alguma condição clínica não significa que a substância seja isenta de riscos. Em geral, o uso recreativo e de performance geralmente ocorre fora de protocolos testados, com perigos frequentemente subestimados. Com o alerta da ANVISA sobre o uso irracional desses fármacos, diversos veículos de imprensa repercutiram os riscos desse tipo de uso (veja aqui e aqui). Os efeitos colaterais comuns ao uso desses medicamentos podem incluir:
- Priapismo: ereções prolongadas e dolorosas, que perduram por mais de 4h. Esses eventos podem acontecer por vasodilatação prolongada dos vasos penianos e “aprisionamento” do sangue no órgão. Podem evoluir para fibrose, com dificuldade de ereção futura, e, em casos graves, necrose e até amputação peniana;
- Hipotensão: queda significativa da pressão arterial, acompanhada de tonturas e risco de desmaio. A vasodilatação sistêmica reduz o fluxo cerebral, favorecendo a perda do equilíbrio e da consciência. O risco aumenta em pacientes que já utilizam anti-hipertensivos (como losartana, enalapril, propranolol etc.), pela potencialização do efeito hipotensor;
- Eventos cardiovasculares graves: a redução da pressão pode levar à taquicardia reflexa (palpitações), dor torácica (angina), arritmias e infarto do miocárdio, com possibilidade de morte súbita. Alterações bruscas de pressão e do ritmo cardíaco também elevam o risco de acidente vascular encefálico (AVC ou “derrames”).;
- O uso crônico, em especial, pode ser associado a perdas sensoriais (alteração na visão e audição, até perdas irreversíveis), além da possibilidade de dependência psicológica, quando há necessidade de manter o uso pelo medo da “perda de desempenho”.
Em resumo, embora esses medicamentos tenham indicações clínicas bem estabelecidas, o uso fora dessas condições expõe os usuários a riscos graves que superam benefícios possíveis.