Qual analgésico usar em suspeita de dengue?

Postado por: Lucas Gazarini

Texto elaborado em colaboração com Morgana Fernandes Dias.


Os casos de dengue só crescem no país, desde o começo de 2024. Entre as queixas mais comuns, ficam a febre e as dores (de cabeça, articular, muscular…). Mas qual medicamento é seguro para usar, em casos suspeitos ou confirmados de dengue?

Obviamente, a automedicação não é recomendada. Contudo, quando feita, ela deve ser responsável e embasada. Paracetamol (Tylenol®, Cimegripe®, Cefalium®, Cefadrin®, Benegrip®) e dipirona (Magnopyrol®, Dorilen®, Enxak®, Neosaldina®, Lisador®) são os analgésicos recomendados para uso nesses casos. Nenhum outro analgésico deve ser utilizado em suspeita ou confirmação de dengue, por haver risco de maior perda de sangue em casos de dengue hemorrágica (hoje chamada de dengue grave).

 

Por que outros anti-inflamatórios são contraindicados?

Os anti-inflamatórios atuam no organismo impedindo a produção de mediadores inflamatórios. Eles são responsáveis por alterações locais – como dor, rubor e edema – e sistêmicas – como febre e mal-estar. Na dengue, a produção desses mediadores é aumentada, gerando as principais queixas da doença.

Algumas dessas substâncias inflamatórias, contudo, têm importância para funções normais do organismo. Esse é o caso dos tromboxanos, que são produzidos na corrente sanguínea e facilitam a agregação plaquetária e coagulação. Todos os anti-inflamatórios, em alguma extensão, inibem a formação dos tromboxanos, aumentando o risco de sangramentos.

Como os casos de dengue podem evoluir para quadros hemorrágicos, o uso desses medicamentos pode aumentar os riscos ao paciente. Ou seja, uma pessoa com dengue hemorrágica pode ter uma perda de sangue muito maior se usar esses medicamentos, com maior risco de vida.

A dipirona e o paracetamol são exceções, porque não interferem na coagulação. Por isso, são os únicos analgésicos indicados em casos de dengue.

 

Quais analgésicos devo evitar?

É importante manter o uso exclusivo de paracetamol ou dipirona. Todos os outros anti-inflamatórios são contraindicados, incluindo:

  • Anti-inflamatórios não-estereoidais (AINES), como piroxicam, meloxicam, diclofenaco, nimesulida, ácido mefenâmico, naproxeno, ibuprofeno, cetoprofeno, cetorolaco, indometacina, ácido acetilsalicílico, etc.;
  • Corticoides, como prednisona, dexametasona, triancinolona, ​​betametasona, beclometasona, flunisolida, fluticasona, etc.

Na dúvida, procure sempre o nome da substância ativa na embalagem ou alguma informação na bula. Em geral, as primeiras frases da bula já esclarecem se o medicamento é um corticoide ou anti-inflamatório não-estereoidal.

 

Por que o ácido acetilsalicílico jamais deve ser usado nesses casos?

Entre os AINES, o ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina®, Melhoral infantil®, Doril®, Engov®, Sonrisal®, etc.) é o que pode trazer maiores danos em casos de dengue. Assim como outros anti-inflamatórios, ele reduz a produção de mediadores inflamatórios por inibir enzimas necessárias para a sua síntese, como a ciclo-oxigenase. Nas plaquetas, esse mecanismo reduz a produção de tromboxanos pró-agregantes.

Ao contrário dos outros AINES, o AAS inibe essa enzima de forma irreversível, com efeitos duradouros. Por isso, as ações anticoagulantes do AAS permanecem por até 14 dias após o uso de uma única dose, com maior risco de sangramentos em casos de hemorragias. O AAS também pode agredir a mucosa estomacal, causando úlceras e sangramentos gástricos. Por isso, em pessoas com dengue hemorrágica, a perda de sangue seria muito substancial.

Esse efeito antiagregante é explorado clinicamente para prevenir tromboses e outros quadros cardiovasculares. Então fique de olho no uso de medicamentos para “afinar o sangue” em casos de suspeita de dengue, porque eles também podem conter AAS (Aspi Prev®, Aspirina Prevent®, Somalgin Cardio®, etc.) ou outros anticoagulantes!


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