4 medicamentos são melhor que 1 no controle da hipertensão?

Postado por: Lucas Gazarini

Por incrível que pareça, sim, mas não é bem assim. Um estudo inédito demonstrou que a adoção de um regime terapêutico combinado com 4 fármacos anti-hipertensivos em doses baixas apresentou eficácia maior no controle da pressão arterial que a monoterapia com doses regulares. O estudo foi conduzido na Austrália e teve seus resultados publicados esse mês na revista científica The Lancet, uma das mais importantes do mundo.

A hipertensão é uma condição crônica comum e com manejo terapêutico variável: embora o tratamento usual consista do uso de um único fármaco (monoterapia), não são incomuns os casos de respostas pouco satisfatórias, necessidade de associação de vários medicamentos e, até, resistência farmacoterapêutica. Ainda, os riscos aumentados de interações medicamentosas e ocorrência de eventos indesejados faz com que muitos pacientes permaneçam em regime de monoterapia anti-hipertensiva, mesmo que menos eficiente no controle da pressão arterial. Por isso, a busca por novas alternativas de manejo farmacoterpêutico é constante.

 

Propósito do estudo

Justamente focando nessa problemática, o estudo QUARTET foi conduzido para avaliar a segurança e eficácia de um comprimido único contendo doses baixas (um quarto da dose usual) de 4 agentes anti-hipertensivos diferentes: irbesartana (37,5 mg), um antagonista de receptores de angiotensina; anlodipino (1,25 mg), um inibidor de canais de cálcio; indapamida (0,625 mg), um diurético relacionado aos tiazídicos, e; bisoprolol (2,5 mg), um antagonista seletivo de receptores β1-adrenérgicos. Esse comprimido composto foi chamado de QuadPill.

O estudo foi conduzido de forma multicêntrica, controlada, com tratamento randomizado e mascaramento duplo-cego, considerado o padrão-ouro na obtenção de evidências clínicas. O experimento aconteceu ao longo de 12 semanas, com 591 participantes hipertensos recebendo tratamento com a QuadPill comparados a um grupo controle, com pacientes tratados exclusivamente com monoterapia (irbesartana em dose efetiva, de 150 mg).

 

Desfecho

Após 6 semanas de tratamento, a pressão arterial teve uma diminuição mais acentuada nos participantes em uso da QuadPill. Nesse momento, outros fármacos anti-hipertensivos puderam ser prescritos pelos médicos, para controle mais adequado da pressão, em ambos os grupos. Ao final das 12 semanas de testes, mais participantes do grupo controle precisaram usar outros anti-hipertensivos (40%) para controle pressórico comparado ao grupo tratado com QuadPill (15%) e, mesmo assim, esse último apresentou pressão arterial média menor. Ainda, as chances de obter controle adequado da pressão, com níveis inferiores a 120/80 mmHg, foram maiores no grupo que recebeu a terapia combinada (46% vs. 26%).

Ao final da fase de testes, alguns participantes mantiveram os tratamentos por até 1 ano, para avaliar a tolerabilidade e eficácia a longo prazo. Ao final dos 12 meses, a redução da pressão arterial foi mais evidente no grupo tratado com a QuadPill, com maior proporção de participantes desse grupo com níveis pressóricos inferiores a 120/80 mmHg (53% vs. 25%). Não houve diferenças significativas quanto à ocorrência de eventos indesejados ou abandono da pesquisa ao longo de todo o período avaliado.

 

Perspectivas no manejo da hipertensão

Este foi o primeiro estudo controlado e de fase 3 realizado para avaliar a viabilidade de tratamentos iniciais combinados com doses reduzidas de fármacos no manejo da hipertensão. Entre as vantagens observadas, pode-se destacar o manejo mais eficiente da pressão, mesmo ao longo do tempo, com menor necessidade de combinação de doses altas de outros fármacos. Essa estratégia também possibilitaria uma menor incidência de interações medicamentosas ao utilizar doses reduzidas dos agentes, minimizando o risco de eventos indesejados e iatrogenia.

O estudo completo pode ser acessado aqui. Mais sobre a cobertura do estudo aqui e aqui.

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