ANVISA atualiza lista de emagrecedores irregulares
Com alguma frequência, surgem notícias sobre mortes ou agravos causados pelo uso de “remédios” emagrecedores. Para a surpresa de alguns, vários deles são “naturais“, o que contraria o conhecimento popular de que “produtos naturais são mais seguros“.
Esses casos servem de exemplo para destacar que produtos de origem natural (fitoterápicos ou remédios a base de plantas) não são isentos de riscos. Assim como medicamentos sintéticos, plantas e remédios a base delas podem conter inúmeras substâncias químicas com perfil de risco descrito. O problema é ainda maior quando se associam várias plantas, tornando o risco maior e mais incerto de se medir.
Casos que se repetem com os anos
Recentemente, o caso que ganhou maior destaque foi o da vocalista da banda Calcinha Preta, Paulinha Abelha. Após quase 2 semanas internada, a cantora morreu aos 43 anos por comprometimento em múltiplos órgãos, incluindo insuficiência renal e consequências nervosas. Uma das principais suspeitas da esquipe médica foi que a sobrecarga renal teria acontecido pelo abuso de um “chá emagrecedor”, conhecido por “50 ervas emagrecedor“. Mais tarde, o laudo médico apontou a causa de morte por infecção no sistema nervoso, sem ser possível estabelecer relação do comprometimento renal com o uso de remédios/medicamentos.
Mesmo com o laudo final, o ocorrido aumentou a preocupação sobre a venda ilegal e abuso de uso de (supostos) emagrecedores. Antes do caso da vocalista, o uso do “50 ervas emagrecedor” foi associado a um caso de hepatite fulminante, sem histórico anterior de doença. A paciente, inclusive, passou por transplante hepático, mas não resistiu. É importante deixar claro que a associação entre os eventos (uso do remédio e a morte) não implicam causalidade, ou seja, é muito mais complexo afirmar que as mortes aconteceram diretamente pelo uso do produto.
Outras situações parecidas aconteceram no passado. Em 2016, algumas mortes foram associadas ao consumo da noz-da-Índia (ou Castanha da Índia; Aleurites moluccanus), vendida de forma irregular como emagrecedor. O suplemento era indicado por uso popular, inclusive em academias e ambientes mais relacionados com a busca por perda de peso. Ao longo daquele ano, três mortes foram relacionadas ao consumo da planta, com casos de paradas cardiorrespiratórias no Mato Grosso do Sul, o que levou à sua proibição no estado.
Os riscos de remédios irregulares
Esses casos também servem para reforçar a importância do processo de controle de qualidade na venda de produtos farmacêuticos. Ao comprar um medicamento, você tem a garantia de que eles passaram por processo rigoroso que atestaram sua eficácia e segurança. E, mesmo assim, esse medicamento não é completamente seguro, como alguns podem acreditar: segurança é um critério relativo, porque sua avaliação se deu frente a contextos específicos de saúde e regime terapêutico. Por isso, a avaliação de segurança de um medicamento não garante a sua segurança completa em qualquer situação. E essa é uma informação bem pouco compreendida popularmente.
Contudo, a passagem por processo de testagem quanto à segurança e eficácia são etapas imprescindíveis para “garantir o mínimo” quando você usa um produto para fins de saúde: que ele é eficaz para o fim que se propõe e é seguro nesse contexto. Quem utiliza um remédio de venda irregular se sujeita a riscos desconhecidos e eficácia não estabelecida, um balanço de risco/benefício extremamente desfavorável.
Mais que isso, remédios de venda irregular sequer passam por processos mínimos de controle de qualidade. Ou seja, é impossível ter certeza de que a composição do remédio é mesma a alegada. O caso da noz-da-Índia é bastante emblemático nesse sentido, já que sua proibição aconteceu juntamente com a do Chapéu-de-Napoleão (Thevetia peruviana), uma planta ornamental conhecidamente tóxica. Proibir a comercialização de uma planta reconhecidamente tóxica parece estranho, mas o chapéu-de-Napoleão era vendido como se fosse noz-da-Índia, por ter sementes parecidas. Ou seja, muitas pessoas usavam (ou usam?) chapéu-de-Napoleão como se fosse noz-da-Índia, simplesmente por não haver processo de controle de qualidade nessas preparações irregulares.
Controle de remédios emagrecedores pela ANVISA
Depois do destaque alcançado pelas mortes associadas ao “50 ervas emagrecedor“, a ANVISA emitiu nota sobre a proibição do produto, que aconteceu em 2020. Mais que isso, a ANVISA atualizou uma lista de produtos vendidos de forma irregular como emagrecedores, incluindo mais de 150 tipos de chás a cápsulas com compostos sintéticos ou de origem vegetal (e de nomes bastante sugestivos). Mesmo medicamentos sintéticos, como as anfetaminas, tiveram novamente sua venda proibida pelo STF no ano passado, seguindo a recomendação da ANVISA. Apesar dos riscos, esses produtos ainda podem ser comprados de forma irregular.
Para se resguardar, você pode consultar se um produto é registrado como medicamento ou se ele é proibido pela ANVISA. Você ainda pode notificar produtos irregulares e contribuir com a segurança no consumo de produtos de saúde.