“Ozempic brasileiro” chega em 2025?

Postado por: Lucas Gazarini

Essa notícia foi divulgada no final de 2024: uma indústria farmacêutica nacional passaria a produzir a “versão brasileira do Ozempic”. Mas a realidade não é bem essa.

Quem acompanha as postagens por aqui sabe um pouco sobre as reviravoltas causada pela semaglutida, o componente ativo do Ozempic® (veja aqui | aqui | aqui). Outras substâncias da mesma “família”, como a tirzepatida (Mounjaro®) começaram a ganhar destaque como versões “mais potentes e eficientes”. Mas nenhuma dessas duas substâncias vai passar a ser produzida no país, com custo reduzido.

 

Então o que vai mudar?

A notícia que eu mencionei na primeira frase tem alguns erros conceituais. Ela diz que a liraglutida – uma substância da mesma família da semaglutida, os análogos da GLP-1 – é componente ativo do Ozempic®. Você já sabe que isso não é verdade. A liraglutida, na verdade, é o fármaco presente em medicamentos como o Saxenda® e o Victoza®. A Novo Nordisk, a mesma farmacêutica que desenvolveu o Ozempic®, detém os direitos sobre esses medicamentos.

O que vai mudar, na prática, é que a patente desses dois medicamentos deve expirar nos primeiros meses de 2025. Na prática, isso quer dizer que a Novo Nordisk não terá mais o direito de monopólio sobre essa substância, que poderá ser vendida como similares e genéricos. A EMS se antecipou e solicitou registro de medicamentos contendo a liraglutida, que serão produzidos a partir de 2025. Os novos medicamentos foram registrados como Olire® e Lirux®. No ano passado, a indústria já anunciava a intenção de produção desses medicamentos, com a inauguração de uma nova fábrica.

Tudo isso deve reduzir o custo dos medicamentos que contém essa substância, democratizando o acesso. Ainda, o barateamento dessa substância pode pesar a favor da incorporação desses medicamentos no SUS, que avalia custo e benefícios. Quando genéricos forem registrados, o preço deve ficar até 35% menor. Cada caneta aplicadora, que custa aproximadamente R$230 atualmente, passaria a custar perto de R$150.

 

Liraglutida versus Semaglutida: qual a diferença?

As duas substâncias têm usos aprovados para o controle da glicemia no diabetes tipo 2 e perda de peso em pessoas obesas ou com sobrepeso (com ou sem diabetes). Mas existem diferenças claras que impactam nos resultados.

A primeira diferença é farmacocinética: enquanto a semaglutida tem efeito prolongado, com uma injeção subcutânea semanal, a liraglutida tem ação muito mais transitória, exigindo injeções diárias. A outra diferença é quanto à eficácia: enquanto usuários de semaglutida perdem até 12% do peso corporal, a liraglutida causa um emagrecimento mais modesto, de até 5%. Por isso, a ação e duração de efeito da liraglutida são reduzidos, com resultados que não são comparáveis à semaglutida.

 

Por que a notícia pode ser enganosa?

Ao anunciar “Ozempic® brasileiro” ou mencionar que “a liraglutida é a substância ativa desse medicamento” (SIC), as notícias podem gerar falsas esperanças. Muitas pessoas gostariam de usar o emagrecedor – independente de precisarem clinicamente ou não, o que não está em discussão aqui – e acharam que essa poderia ser a chance.

Ainda não há venda de medicamentos com semaglutida além dos patenteados pela Novo Nordisk. Essa patente permanecerá vigente até 2026. Obviamente, a Novo Nordisk busca alternativas para estender esse prazo e garantir a galinha de ovos de ouro.

Por isso, é importante saber que:

  • A patente da liraglutida vai acabar, com a venda de medicamentos mais baratos com essa substância;
  • Embora liraglutida e semaglutida sejam semelhantes, o perfil de efeitos é distinto. Não é a “mesma coisa”.

Algumas outras notícias foram mais precisas, indicando o início da produção de medicamentos “da família do Ozempic® ou “primeiro concorrente nacional do Ozempic®.

 


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