A notícia parece velha, mas não exatamente. A semaglutida – substância 94% homóloga ao peptídeo semelhante a glucagon 1 humano – já é regulamentada no Brasil desde 2018, comercializada como Ozempic^®. O medicamento foi aprovado com indicação formal para o controle glicêmico para o diabetes tipo 2, com base em estudos clínicos. Nos EUA, essa aprovação aconteceu pelo FDA em 2017.

Mesmo sem a aprovação e estudos suficientes relacionados ao uso para o controle da obesidade após sua aprovação inicial, o medicamento virou febre em redes sociais. O uso off-label – seja prescrito, principalmente por endocrinologistas e nutrólogos, ou por automedicação – levou ao aumento na busca pelo medicamento e queda nos estoques. A possibilidade de esgotamento do produto foi anunciada para o primeiro semestre deste ano, o que põe em risco o tratamento de pacientes diabéticos.

É importante deixar claro que a perda de peso não foi um efeito extensamente avaliado em estudos clínicos, mas observado “colateralmente” em pacientes diabéticos dentro dos estudos conduzidos até então e, principalmente, com a chegada no medicamento no mercado.

Semaglutida e obesidade

Apresentações do Wegovy^® com diferentes doses escalonáveis, vendidas no exterior (Divulgação: Novo Nordisk).

Estudos clínicos posteriores avaliaram o uso da semaglutida em pacientes obesos (mesmo sem diabetes) por longos períodos, com perda de 5 a 12% do peso corporal reportada. Frente às evidências, o fármaco foi aprovado pela FDA como tratamento para obesidade em 2021, com nome comercial Wegovy^®. No Brasil, essa aprovação pela ANVISA só aconteceu em janeiro deste ano, quase 2 anos depois. Portanto, o uso da semaglutida passa a ter recomendação formal para obesidade, quando usada como Wegovy^® (ainda sem registro no país).

Essa última frase pode ter soado de forma estranha. Mas é isso mesmo: embora tanto o Ozempic^® quanto Wegovy^® tenham a semaglutida como substância ativa, eles não são o mesmo medicamento. Elas diferem especialmente quanto às doses máximas disponibilizadas (1 mg vs. 2.4 mg, respectivamente) e, por isso, são “entidades” diferentes. Mas isso é um detalhe na prática.

A indicação para o uso da semaglutida para obesidade inclui pacientes com índice de massa corporal ≥ 30 kg/m² ou ≥ 27 kg/m² associada a comorbidade (disglicemia, hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva ou doenças cardiovasculares em geral). Fica claro na bula, contudo, que o tratamento deve ser adjuvante a dietas hipocalóricas e atividades físicas.